domingo, novembro 28

Jornal Estado de SP em PDF, Domingo, 28 de Novembro de 2010

Posted by kotonette 11:06, under | No comments

Dois chefes do tráfico no Complexo do Alemão são presos:
RIO - A polícia prendeu na manhã deste domingo, 28, dois homens que seriam chefes do tráfico no Complexo do Alemão. Ambos seriam gerentes na região. O primeiro, conhecido como Pará, e o outro, conhecido como Domal Dafé, chefe no Morro do Adeus. Com ele, a polícia apreendeu uma grana e uma farda do exército.
No total, já são mais de 20 pessoas entre presos e detidos para averiguação. Familiares dessas pessoas protestam por conta da falta de informações precisas e alegam a inocência dos detidos. Algumas pessoas estão presas desde ontem e ainda não foram liberadas.
Ordem. Antes da ocupação, chefes do tráfico no baixaram uma ordem impedindo que os moradores deixassem a região antes e durante a ocupação pelas forças de segurança.

Quem saísse, perdia a casa e os móveis. Também ficaria sujeito a julgamento pelos comandantes do Complexo. O comerciante João Aparecido Alves, morador do local há 22 anos, foi ameaçado depois de mandar a mulher e os filhos para Cabo Frio. Disseram a ele que se não os trouxesse de volta seria morto.

Alves saiu durante a ocupação e pediu proteção à Polícia. O morador Glauco pereira foi autorizado a sair com a mãe doente, mas precisou deixar os dois filhos como garantia de que voltaria.

Para o sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Gláucio Soares, a instalação de UPPs resultou "numa redução considerável de renda" pelos traficantes, e na perda de um domínio territorial que já somava décadas.

Segundo Soares, uma das origens históricas para o controle do tráfico sobre comunidades carentes remonta aos mandatos do ex-governador Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1994). "A política brizolista de que polícia não sobe morro foi desastrosa, porque deu tempo para esses grupos saírem de suas bocas de fumo e estabelecerem um domínio territorial. As UPPs acabaram com esse domínio", aponta.

Além das UPPs, o sociólogo David Morais, da Universidade Cândido Mendes, diz que o surgimento das milícias - outra forma de poder paralelo nos morros, ligadas a policiais ou ex-policiais corruptos - também contribuiu para encolher ainda mais os espaços de que antes desfrutavam os traficantes. "O monopólio territorial do tráfico começa a cair com o surgimento das UPPs, e paralelamente você tem as milícias, que começam a concorrer nas mesmas atividades. Então os traficantes têm que buscar outros lugares para continuar suas atividades ilícitas", explica.

Morais afirma que descer para o asfalto não é a alternativa automática. "Nas favelas, o crime é muito mais fácil, porque não faltam vias de fuga que viaturas não podem acessar".

Motivação política. O antropólogo Rubem César Fernandes, da ONG Viva Rio, vê motivação política por trás dos ataques, lembrando que estamos num momento de transição entre um mandato político e outro. A situação lembra a virada de 2006 para 2007, quando uma série de ataques - incluindo ônibus queimados e policiais mortos - foi realizada antes da posse do governador Sérgio Cabral.

"Por um lado, as ações parecem ser intervenções para influenciar nessa mudança. O que está diferente, entretanto, é que elas parecem ser mais coordenadas que das outras vezes, e os métodos adotados mudaram. Está havendo uma articulação territorial muito ampla, e as ações são rápidas, sem deixar vítimas", diz Fernandes. "Estão queimando para a fotografia, para provocar uma imagem na opinião pública."

O que também mudou desta vez, aponta Fernandes, é que pela primeira vez há um ânimo na sociedade acompanhando o governo nas reconquistas dos territórios. "Com as UPPs, criou-se um horizonte. E a resposta está vindo mais forte do que os traficantes imaginaram", diz Fernandes, citando a articulação veloz entre o governo do Estado e Marinha para o uso de veículos blindados na operação realizada quinta-feira.

"Acho que o feitiço virou contra o feiticeiro", afirma, torcendo paraque o momento represente "a virada de mais uma página importante na conquista dos territórios".

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