sábado, fevereiro 28

Revista Isto é Dinheiro - 04 de Fevereiro de 2009 Edição 591

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Mansur tenta recomeçar
Dez anos depois de uma quebra espetacular, o ex-rei do varejo abre seus planos para relançar a Mesbla em meio a um turbilhão de processos judiciais

No dia 29 de julho de 2009, a falência das redes Mappin e Mesbla completa uma década. Desde então, o assunto paira como um fantasma sobre a cabeça de todos os envolvidos em um dos mais impressionantes escândalos do mundo corporativo brasileiro. Credores ainda esperam pelo pagamento. Funcionários também. Parte dos imóveis irá a novos leilões neste ano para arrecadar recursos para cobrir os prejuízos causados pela quebra daquelas que na época eram as duas maiores redes de departamento brasileiras. Se um final feliz parece distante, para o personagem maior dessa história há uma espécie de esperança renovada. Ricardo Mansur, 61 anos - com menos cabelos que no passado, um pouco mais magro e exatamente o mesmo benevolente tom de voz -, tem um plano na cabeça. E resolveu contá-lo. Nove anos após a última entrevista concedida à imprensa, o homem acusado de levar à bancarrota as duas cadeias ícones do varejo nacional falou com exclusividade à DINHEIRO. Numa conversa em que alternou momentos de desabafo sobre a queda espetacular com revelações de seu planejamento de negócios, Mansur disse que "não há culpados nem inocentes" nesse caso. Afirma que pleiteia o dinheiro que lhe cabe e, por isso, "mais cedo ou mais tarde a Justiça será feita". "Sou um homem simples, honesto, correto. Não sou uma pessoa de vaidades. Sofri muito todos esses anos e esse é um outro momento."

E por isso entenda-se uma nova tacada do ex-rei do varejo, a primeira desde o início de seu exílio do mundo empresarial. Mansur planeja relançar uma das mais importantes marcas da história do varejo brasileiro, a Mesbla. O caminho de volta tem início no mundo virtual: ele quer criar um site de vendas online com o endereço da cadeia de lojas. A princípio, seria batizado como www.mesbla.com.br. Ele ainda tem os direitos de uso da marca, e ela seria o caminho para voltar à ativa. Na maior discrição possível, testes foram feitos no final do ano passado, quando a página na internet funcionou por algumas semanas sem ninguém notar. "Esse é o sonho da vida dele agora", conta um amigo muito próximo. DINHEIRO apurou que o estudo de viabilidade do negócio está pronto, mas ainda há uma opção na manga. Mansur pensa também em alienar a marca para terceiros, como uma espécie de segunda alternativa. "Estamos avaliando todas as possibilidades", afirma ele, na entrevista concedida à DINHEIRO na tarde da quartafeira 28, em São Paulo.

É claro que o empresário, que chegou a ser batizado de o "rei dos ex" (ex-banqueiro, ex-rei do leite, exrei do varejo) vai precisar de dinheiro e de credibilidade. Sua fortuna pessoal já foi estimada em cerca de US$ 500 milhões e boa parte dessa dinheirama veio da batida e certeira estratégia de comprar barato grandes empresas e vendê-las caro - grupos como Peixe, Leco, Pizza Hut e Vigor. Mas após a quebra dos grupos o patrimônio foi reduzido drasticamente. Para colocar o plano na rua, Mansur terá que bater na porta de fornecedores locais, renegociar linhas de crédito com velhos conhecidos em bancos e reorganizar uma infraestrutura logística que, no varejo, é a diferença entre ficar de pé e fechar as portas. E não se pode dizer que o seu passado o liberta. No Tribunal de Justiça de São Paulo, há 64 processos em andamento em que ele é réu em primeira instância. Quando o Mappin fechou, deixou na mão nove.mil credores, dez mil desempregados e dívidas calculadas em até R$ 1,5 bilhão na época. Com a Mesbla a conta engordou. Só o débito com o Fisco dos 47 pontos da rede superava os R$ 500 milhões em 1999. No auge da crise, Mansur foi parar em Londres para, segundo alegou, cuidar da saúde - algo entendido até hoje como fuga de um homem encurralado.

O atual esforço dele em deixar isso tudo para trás ressurge após alguns sinais dados pela Justiça, e entendidos por ele, como positivos. Grande parte de sua energia é concentrada na batalha jurídica com o Bradesco, que se arrasta há anos e envolve um pedido de indenização bilionária. São pouco mais de R$ 42,1 bilhões em ações indenizatórias requeridas por Mansur. Desde o começo, ele tenta responsabilizar o banco pela quebra das duas redes. Diz que, se a instituição não tivesse cortado as linhas de financiamento do dia para a noite, nada teria acontecido. "De repente, por falta de interesse deles, tudo acabou", defende-se. Do montante total, R$ 40 bilhões correspondem ao pedido para cobrir danos materiais à Mesbla - a ação corre na Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro e equivaleria a dez vezes o valor de mercado da Lojas Renner em 1999. Como a Mesbla vendia dez vezes o montante da Renner na época da falência, foi utilizado esse fator de multiplicação - que pode ser desconsiderado. "É um valor simbólico, um parâmetro para a Justiça se balizar", conta Wladymir Soares de Brito, advogado do empresário no Rio. Se faz sentido ou não, só a Justiça dirá. Caberá a ela também julgar uma segunda ação indenizatória do empresário, por danos morais e materiais à sua pessoa física. Mansur pleiteia no Tribunal de Justiça de São Paulo (29ª Vara Civil), exatos R$ 2.138.348.399,70. O montante acaba de ser alvo de um pedido de provisionamento encaminhado por seus advogados em dezembro à PricewaterhouseCoopers, auditoria do banco, que também já foi informada que pode ter que provisionar os R$ 40 bilhões calculados.
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