sábado, janeiro 15

Jornal O Dia em PDF, Sexta, 14 de Janeiro de 2011

Posted by kotonette 00:42, under | No comments

Vida sai dos escombros em meio a mortes na Serra:
Um dia depois da pior catástrofe natural da história do Brasil óbitos já chegam a 500. Há mais de 15 mil desabrigados. Bebê é resgatado vivo após 15 horas soterrado. Rio - Bairros inteiros destruídos, cadáveres amontoados nas ruas, pessoas desalentadas sem destino. Um dia depois da pior catástrofe natural da história do Brasil, a Região Serrana do Rio conta e chora seus mortos. Segundo as prefeituras locais, foram confirmados até a noite de ontem quase 500 óbitos. O número de pessoas desabrigadas e desalojadas passa de 15 mil. Município com maior número de vítimas, Nova Friburgo contava até ontem à noite 214 mortes, mas apenas corpos reconhecidos por familiares estão sendo registrados. No Instituto de Educação da cidade, policiais improvisaram um IML. Segurando o caixão do filho, seguido pelo da esposa, um homem era o retrato da tristeza. “Meu nome? Não sou mais ninguém”, limitou-se a dizer.

Morador do bairro Maringá, Paulo Sergio Ferreira lamentava a perda do filho mais velho. Ele conseguiu salvar a mulher e outros dois filhos, mas o menino Paulo Gabriel, 7 anos, não resistiu aos ferimentos causados pelo desabamento da casa da família. “Ele saiu com vida de debaixo da terra, mas depois não aguentou”, contou.

Em meio à dor, o resgate do bebê Nicolas, 6 meses, comoveu equipes dos bombeiros. Ele e o pai, Wellington da Silva Guimarães, 25, passaram 15 horas soterrados. Sobreviveram abraçados respirando por um vão entre os escombros. Nicolas foi resgatado quarta-feira à noite sem nenhum arranhão. Usava apenas uma blusa e não chorou quando foi retirado da lama. O pai também passa bem, mas mãe e a avó de Nicolas estão desaparecidas.
Em Teresópolis, o número de mortos já chega a 208. Os corpos das primeiras 30 vítimas identificadas foram sepultados ontem. No bairro Campo Grande, o cenário é desolador. A enxurrada soterrou casas de até quatro metros de altura. “É a cena mais chocante que vi na vida. Tem dezenas de pessoas desaparecidas, devem estar aqui embaixo”, desabafou Maria de Lurdes Rodrigues, 59.

Em Petrópolis, já foram registradas 39 mortes. Resgatado da lama por vizinhos, o pedreiro Ismael Aquino de Paula, 47, chorava a perda da mulher, Catia Maria de Paula, 47. “Acordamos com um forte estrondo. Parecia uma tsunami. Os gritos da minha mulher pedindo socorro não saem da minha cabeça”.

Dono de um bar no Vale do Cuiabá, no Distrito de Itaipava, Petrópolis, Paulo Henrique Xavier, 37, salvou os pais, Francisco, 87, e América, 72, quando um rio transbordou, inundando a casa da família. “Conseguimos sair pelo teto”. Na manhã de ontem, ao voltar até sua casa, ele foi surpreendido com cena chocante. “Encontrei o corpo de um amigo, Cesar, 32, que foi arrastado pela enxurrada, em cima do telhado da casa”, contou. Outros municípios da Serra foram atingidos pelo desastre. Em Sumidouro, ao menos 19 morreram.

Homem soterrado até a cintura conseguiu salvar a filha

“Minha vida ficou debaixo daquela terra”. O desabafo do vendedor Cristiano Xavier, de 25 anos, ao ver, lado lado, os corpos da mulher e dos avós, resume o drama que ele viveu nos últimos dois dias. A casa em que ele, a mulher Bruna Gomes da Cunha, 24, e a filha do casal, de 4 anos, moravam, no bairro Caleme, em Teresópolis, desmoronou às 2h de quarta-feira. “Fiquei soterrado até a cintura, segurando minha filha sobre a cabeça para ela não morrer. A Bruna desapareceu”.

Voluntários passaram o dia ajudando moradores a recuperar o que sobrou de objetos pessoais e resgatar corpos arrastados pela inundação. Pelo menos oito corpos foram localizados pelos voluntários, que usaram facões e serras elétricas para cortar os troncos de árvores. Como as barreiras impediram a subida de carros da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros, os voluntários embrulharam os corpos em sacos plásticos e os carregaram até um local onde pudessem ser resgatados.

Pai amarrou filhos, mas a enxurrada levou um deles

Aos prantos na porta do IML, o jóquei Rogério Silva Gomes, 32 anos, não se conformava com a morte de um dos seus três filhos, Breno, de 4 anos, na madrugada de terça-feira, no Vale do Cuiabá, em Itaipava. “Ele se foi com um turbilhão de água em meio aos escombros. Por que eu não o amarrei também, meu Deus?”, lamentava ele, enquanto chorava.

Para salvar os filhos, Rogério e a mulher, Maria, 24 anos, amarraram Beatriz, 7 anos, e Bernardo, de apenas 45 dias, a um móvel, para que eles não fossem arrastados pela enchente. Não houve tempo de fazer o mesmo com Breno. “Eu os tirei pelo telhado, mas não consegui fazer o mesmo com Breno”, contou.

Ainda abalada com as mortes de três sobrinhos e o cunhado, Marli dos Santos Carvalho, 42 anos, voltou à sua casa, no bairro Campo Grande, em Teresópolis, para buscar o que restou. “Morava aqui há 31 anos. Achei que nossa família viveria para sempre reunida. É uma dor que não dá para explicar”.

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